Porreiro, pá!

* Texto publicado hoje no Jornal do Centro
    
     Mário Soares contou a Joaquim Vieira o que aconteceu quando, em 24 de Janeiro de 2011, no dia a seguir às últimas presidenciais, foi chamado a S. Bento por Sócrates:
     «Eu chego e o gajo estava radiante, bem disposto. E a primeira coisa que me diz foi: “Ó Mário, acabámos com aquele [insulto].”
     E eu disse: “Eh pá, não gosto disso, palavra que não gosto disso, não é bonito, não diga isso.”
     “Eh pá, mas ele estava na merda, eu nunca o vi assim. (…) Mas agora isto mudou tudo, vou fazer uma grande aproximação aos gajos do PSD”.
     E eu fico a olhar para o gajo e digo: “Ó Sócrates, eu acho que você tem grandes méritos. Mas não pode continuar a fazer buracos (...)”»
     Onde está “insulto” a Manuel Alegre, também se pode ler “piiiiii!”. Este excerto do livro “Mário Soares, Uma Vida” mostra um momento de sintonia emocional entre José Sócrates e Cavaco Silva. Cavaco adorou que Alegre tivesse tido menos de 20% dos votos. Sócrates também.
     Mas há mais sintonias entre Sócrates e o actual inquilino do Palácio de Belém: (i) Cavaco e Sócrates foram os únicos primeiros-ministros da terceira república com maiorias absolutas monopartidárias, (ii) foram ambos autoritários e sem capacidade de diálogo e (iii) foram ambos objecto de culto de personalidade nos seus partidos.
     O regresso de Sócrates, em plena quaresma, foi o pré-lançamento da sua candidatura às presidenciais de 2016. Assim como aqui, com muita antecedência, se explicou que a candidatura de Manuel Alegre era a melhor maneira da esquerda facilitar a vida a Cavaco Silva, o mesmo se faz agora a três anos das próximas presidenciais: a candidatura do principal responsável pela bancarrota portuguesa de 2011 facilita a vida à direita.
     Em Bruxelas, Durão Barroso esfrega as mãos de contente. 
Há-de querer, depois, retribuir com gratidão o célebre abraço e o célebre «porreiro, pá!»

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