Festas e bolos *

* Texto publicado no Jornal do Centro há exactamente quatro anos, em 28 de Maio de 2010


1. Em 30 de Novembro de 2001, o ministro da economia da Argentina, Domingo Cavallo, decretou o “corralito”, o congelamento das contas bancárias, o que fez alastrar o descontentamento a todo o país.


Fotografia e detalhes sobre o corralito aqui 
Multidões manifestaram-se batendo em panelas – protesto a que se chamou “cacerolazo”. Houve pilhagens e mortes. Cavallo foi o alvo de todas as fúrias. Nas manifestações havia sempre muitas pessoas com a máscara do ministro, máscara que na altura se vendia na Argentina tão bem como agora se vende a vuvuzela na Covilhã.

A 19 de Dezembro foi decretado o estado de sítio. Mal o presidente acabou de o anunciar, milhares de argentinos pegaram nas caçarolas e arrancaram para as ruas. Um dos alvos foi a casa do ministro que foi cercada. Conta-se que Domingo Cavallo conseguiu fugir de casa sem ser molestado pela multidão porque levava posta uma das populares máscaras de si próprio.

Lembrei-me desta história ao ouvir esta semana Vítor Constâncio nas televisões a falar de cortes nos salários. Falava, falava, e eu via Constâncio com a sua máscara posta - a máscara “Vítor-Constâncio-não-acerta-uma”.

2. Uma criatura de mãos ágeis apropria-se de uns gravadores que não são seus mas – atenção! – isso não é roubo, isso é "acção directa".

Durante quatro dias os aparelhos ficam na posse da criatura que, depois, os entrega num tribunal mas – atenção! - isso não é arrependimento, isso é "providência cautelar".

Passaram três semanas e o tribunal não devolve os gravadores aos legítimos donos mas – atenção! - isso não é "receptação", é a justiça portuguesa a funcionar.

3. É claro que é preciso urgentemente escrutínio democrático e oposição à câmara de Viseu.

Mas, pelos modos, tem que se dar mais um tempo à nova concelhia do PS para continuar com as suas “festas e bolos”.

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