A voz de quem perde*

* Texto publicado hoje no Jornal do Centro


As primárias do PS são “o” assunto político deste Verão.

Vão ser aqui tratadas respeitando, como sempre, os princípios de Norberto Bobbio: devemos tomar partido, isto é, escolher uma parte (escolhi António Costa), e, depois, devemos exercer o sentido crítico com severidade, especialmente com a nossa parte. Isto não é usual na nossa esfera pública onde há mais pensamento de rebanho do que pensamento livre.

Esta semana foram muito mediatizados dois episódios destas primárias, um do lado segurista cá no distrito, outro do lado costista na capital:


A partir de uma fotografia de Adriano Miranda 

para o jornal Público (aqui)
— as camionetas de gente com que António Borges emoldurou o comício de Seguro em S. Pedro do Sul mostraram, acima de tudo, o músculo mobilizador do ex-presidente da câmara de Resende; prenunciam um chapéu cheiinho de votos em Seguro naquele simpático concelho duriense; mais nada do que isso;

— António Costa prometeu um ministério da cultura a centenas de personalidades da área; no evento, enfileirada, uma clientela vip e luzidia; fabricar um ministro da cultura é fácil e não vem daí mal ao mundo; mau, muito mau, é os zombies socráticos não desalaparem nem serem enxotados.

Nem o comício de Seguro nem o “evento cultural” de Costa, na sua banalidade, puseram ou põem problemas ao PS. Mas o PS está com problemas. Todos os actos eleitorais precisam de regras claras, aceites por todos. Não é o caso. O caderno eleitoral vai estar em obras até quase às eleições. Vai haver adesão espontânea de simpatizantes mas vai também haver arrebanhamento caciqueiro.

A voz mais importante numas eleições, especialmente numas eleições problemáticas, não é a do vencedor mas sim do vencido. Se, na noite de 28 de Setembro, o vencido não aceitar os resultados, cenário que não se pode afastar atendendo à forma como as coisas estão a ser organizadas, então o PS corre sérios riscos de se estilhaçar.

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