Estragas-me a paz


Fotografia de Albert Watson


Estragas-me a paz.
e eu preciso das minhas solidões,
de bocados mentais sem ti.

*
* *

Começo a ser doença obsessiva
ao repetir-me por poemas isto:
as tuas invasões à minha paz.
(Podia até em jeito original
por aqui umas notas sobre ti:
cf., vide: textos tal e tal)
Mas é que a minha paz fica toda es-
tragada quando te penso amor.

*
* *

Interrompi os versos por laranjas.
E volto sempre a ti mesmo que não.
É estranho que pacíficas laranjas
não me consigam afastar de ti.

E que senil te pendure outra vez
na mesma corda, as molas sempre iguais
e que se chova corra a apanhar-te,
não te vás desbotar ou romper,

ou sei lá, por húmida metáfora
ou bolorenta imagem de cordel.

*
* *

Mas é que não és tu:
sou eu que ando estragada:
as minhas solidões não as preciso

e a minha paz, coitada,
já teve a mesma sorte
que os bocados mentais de que falava

no verso três
da página anterior.
Ana Luísa Amaral

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