Outono*

*Texto publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 30 de Setembro de 2005


1. Vem aí o frio. Este ano, as árvores dizem-nos mais cedo do Outono. A seca fragilizou prematuramente as folhas. Na paisagem todos os amarelos, todos os vermelhos, todos os castanhos, todos os violetas. 
Fotografia Olho de Gato

O Outono acumula as cores que a alma precisa. O Outono é uma festa para os olhos, mesmo para os olhos dos urbanitas que não querem muito saber quais são as cores da moda para o Outono / Inverno.

O Outono pede um passeio por um bosque, com o telemóvel desligado, e Jorge Palma nuns auscultadores, baixinho, a cantar que se sente frágil. Mas ágil.

2. O Parque Botânico Arbutus do Demo, da Queiriga, Vila Nova de Paiva, vai ocupar os 12 hectares dos antigos viveiros da Junta Autónoma das Estradas; deve estar pronto em meados de 2006 e vai ser de visita obrigatória.

No último sábado, foi feita uma visita guiada para apresentação do projecto. Para além do passeio por entre a beleza outonal das árvores e das plantas do Parque, os duzentos felizardos presentes puderam ouvir textos de Aquilino Ribeiro e música Barroca.

3. O último texto de Aquilino a ser lido, foi um excerto do Malhadinhas que fala assim da neve: “era a neve ladroa, (…) a neve das moscas brancas que voltejam, giram, rodopiam, vêm de trás, de diante, de baixo, dos lados, metem-se por todas as fisgas e grelhas à busca de coiro vivo em que ferrar.”

Durante a leitura destas palavras, soprou um vento vindo do Marão. Senti um calafrio. Lembrei-me da melhor definição de cultura que já vi alguma vez escrita: a cultura é a roupagem da natureza nua.

De regresso, no carro, pus Jorge Palma a cantar.


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