Zandinguices*

* Texto publicado hoje no Jornal do Centro



1. Escrevo este texto no dia em que Cavaco Silva indigitou, perdão, no dia em que o PR decidiu “indicar” António Costa para primeiro-ministro.

Também se acabam de saber os nomes dos ministros socialistas. Sem surpresa, Maria Manuel Leitão Marques, a cabeça de lista de Viseu pelo PS, vai ser ministra “Simplex 2.0”, deixando vago o seu lugar de deputada. Vai entrar a quarta da lista.

Ora, este “descer” na lista de Viseu, que pode não ficar por aqui, vai ser um patético “cair-para-baixo”. O PS fez mal em só se ter preocupado com a qualidade dos três primeiros nomes.

Editada a partir de uma fotografia de
Enric Vives-Rubio (Público)
2. A “pergunta de um milhão de euros” agora é a seguinte: quanto tempo vai conseguir aguentar-se o governo de António Costa?

Mesmo sabendo-se que a direita vai eleger Marcelo, mesmo sabendo-se da “legitimidade” atribulada deste governo, mesmo assim Costa só deverá ter sérios problemas no outono de 2017, na discussão do orçamento para o ano seguinte.

É que o Bloco de Esquerda é pragmático como o Syriza — tanto vota primeiro na desausteridade como a seguir na austeridade; não quer é eleições já porque receia perder metade dos deputados.

É que o PCP, mesmo com a segurança dos seus fiéis 400 mil votos, cumpre a sua parte desde que seja revertida a privatização dos transportes de Lisboa e do Porto.

É que o BCE vai continuar a mesma política monetária e dar respaldo às emissões de dívida pública.

É que os portugueses são mais sensatos que os seus políticos. O pequeno ganho de poder de compra das famílias em 2016 vai para poupança e não para consumo; ele não vai comprometer as nossas contas externas nem inquietar os mercados.

3. Termino com um precautério, estas zandinguices que nunca nos façam esquecer o grande João Pinto: «prognósticos só no fim do jogo».

É difícil prever a dois meses quanto mais a dois anos. Quem é que podia adivinhar, em 4 de Outubro, que uma derrota nada poucochinha de António Costa ia pô-lo a primeiro-ministro?

Comentários

  1. “Por acaso foi uma ideia minha” o título do “jornal” Correio da “Manha” de 26/11/15:
    "Costa chama cega e cigano para o Governo".

    Mas se eu fosse o director do jornal o título deveria ser algo assim:
    Título: TUDO INCLUÍDO.
    Subtítulo: MONHÉ CHAMA AO GOVERNO UMA ESCARUMBA, UMA ZAROLHA E UM LEL.

    Mas no dia seguinte (hoje) continuam os "brandos costumes" com Miguel Cadete, director-adjunto do Expresso, ao escrever sobre o novo Governo:
    "É multicultural! O líder, António Costa, tem ascendência goesa; a ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, nasceu em Angola e é a primeira negra a ocupar um lugar num Governo de Portugal. Carlos Miguel, secretário de Estado das Autarquias, é filho de pai cigano: também ele o primeiro a chegar ao Governo de Portugal. Isto sucede mais de 41 anos depois do 25 de Abril. Se este Governo for realmente uma orquestra, pode ser de world-music. Mas não é, certamente a banda do eixo Cascais-Restelo."
    Esqueceu-se da secretária de Estado cega... Ah, mas depois não encaixava na piada da orquestra da Mouraria e do eixo Cascais-Restelo.

    Todos sabemos que este foi o passo mais fácil.
    Todos sabemos que vai haver muito diálogo, conversa, debate, discussão, nos gabinetes da AR entre os quatro do entendimento.
    Todos sabemos que, caso esta experiência não tenha sucesso (e as pressões internas e externas são diárias e serão diárias), nos esperam 40 anos de uma direita ressabiada e anti tudo, rigorosamente tudo, o que cheire a Abril.
    Todos sabemos que até dentro dos quatro não há unanimidade nesta solução; até no grupo parlamentar do PS está um “iluminado” chamado Ascenso Simões que já veio defender o fim da eleição universal do PR, que passaria a ser escolhido por um colégio eleitoral, qual Américo Tomáz…

    Há divergências à esquerda? Claro, é por isso que são partidos díspares. Mas também existe convergência. E existem momentos históricos, como este, em que isso é o mais relevante. Mas pelo menos encerrou-se um ciclo de políticas equivocadas. Não tenho dúvidas que no novo ciclo haverá complicações, crises ou momentos de incompetência, mas depois de hoje o cenário político em Portugal não voltará a ser o mesmo. E isso é uma boa notícia.
    Cavaco acaba o reinado sem notoriedade e com a povo a desejar vê-lo pelas costas. É muito triste para uma pessoa que jurou cumprir a "CONSTITUIÇÃO" acabar assim!
    Todos sabemos que o último acto político relevante que ficou destinado a Cavaco, foi dar posse a um governo PS com apoio da esquerda parlamentar, curioso!
    Curioso como tudo começou na diferença entre "indicar" e "indigitar"….!!!

    Curioso como nessa personagem sempre faltou o ADN do contraditório; da síntese e antítese; do eu penso…; da herança grega que se aprendia nos liceus do pensamento filosófico pátrio.

    E termino com uma citação do Prof. José Barata " Na minha terra, quando já não há mais para qualificar a falta de caracter, o narcisismo pimba, a convicção de que é chefe sem o ser, parolo, inculto, labrego, parvenue, pouco dotado, manholas, jogador vingativo e sei lá que mais...na minha terra essa pessoa é RELES."

    Au revoir HomusCavacum!

    PS Os próximos tempos são de suspense? Claro, que sim.
    Mas se este governo conseguir fazer uma mudança de paradigma, porque morreu o discurso das alternativas fechadas, e os defensores da TINA (There is no alternative) não voltarão a ter o ensejo de chorar lágrimas de crocodilo pela impossibilidade de convergências à esquerda para justificarem os seus indisfarçáveis apoios à direita.
    Se Costa conseguir passar o primeiro ano (fim de Cavaco e início de…..?) teremos um governo de maioria parlamentar com a férrea vontade de se aguentar durante uma legislatura!

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