Linha vermelha*

* Texto publicado hoje no Jornal do Centro



1. Obama ainda não se foi embora e já deixa saudades. São assim as democracias: é bom a limitação de mandatos mandar Obama embora, faz-nos lembrar os patéticos Putins e Zedus a caruncharem grudados à cadeira do poder.

O maior falhanço de Barack Obama foi não ter conseguido encerrar Guantánamo, esse offshore judicial vergonhoso que chegou a ter 779 prisioneiros e ainda tem 61. Os seus maiores sucessos foram a criação de um serviço de saúde para todos os norte-americanos e o crescimento económico pujante que colocou a taxa de desemprego abaixo dos 5%.

2. Vejamos a seguinte linha de tempo: (i) 20 de Agosto de 2012: Obama avisa Bashar al-Assad para não usar armas químicas, que isso era uma “linha vermelha”; (ii) 21 de Agosto de 2013: Assad bombardeia Ghouta com gás sarin (1400 mortos, muitos deles crianças); 
Fotografia daqui
(iii) 30 de Agosto de 2013: Obama, contra a opinião da quase totalidade dos seus conselheiros políticos e militares, decide não bombardear a Síria; (iv) 6 de Setembro de 2013: na reunião do G20 em S. Petersburgo, o presidente norte-americano chama Putin de lado e explica-lhe que havia um só caminho para Assad: destruir as suas armas químicas; (v) 14 de Outubro de 2013: a Síria reconhece ter armas químicas e aceita a sua destruição; (vi) 5 de Janeiro de 2016: confirmação oficial do fim daquele arsenal químico.

Desde aquele Agosto de há três anos, há uma enorme controvérsia nos EUA por Obama não ter usado o músculo militar. É afirmado que um “comandante-em-chefe” quando traça uma “linha vermelha” não pode, depois, ficar-se nas covas sob pena de perder credibilidade.

Penso que Barack Obama fez bem, conseguiu evitar que parte daquele arsenal químico tivesse ido parar às gadunhas do Estado Islâmico, com tudo o que isso significa.

E, claro, há-de chegar o tempo para sentar Bashar al-Assad, assassino do seu próprio povo, no banco dos réus do Tribunal Penal Internacional.

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