Generais*

* Texto publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 7 de Dezembro de 2006


1. O desgaste da imagem dos professores junto da opinião pública feito pela Ministra da Educação é um boomerang que vai cair na cabeça do PS e do governo. É só deixar passar a água debaixo das pontes.

Temos agora aí o novo Estatuto da Carreira Docente (ECD) que cria duas categorias de docentes: o professor e o professor titular. Os professores titulares vão ganhar mais e vão ser a elite. É suposto ser a eles que vão ser entregues as tarefas mais complexas e que exigem mais experiência.

Depois da manifestação de 25 mil professores em Lisboa, a 5 de Outubro, a ministra teve que ficar calada mais de um mês e foi José Sócrates que veio para o terreno defender o novo ECD.

O primeiro-ministro usou então repetidamente a metáfora da tropa: as escolas são como a tropa e na tropa só poucos e os melhores é que chegam a generais.

2. O novo Estatuto da Carreira Docente reserva em exclusivo aos professores titulares sete funções: (i) coordenação pedagógica; (ii) direcção dos centros de formação; (iii) coordenação de departamentos; (iv) supervisão da prática pedagógica; (v) acompanhamento do período probatório; (vi) elaboração e correcção de provas nacionais; (vii) participação em júri de provas para professores titulares.

Como se vê, afinal, para pertencer ou presidir a um Conselho Executivo, não é necessário ser professor titular. Isto faz algum sentido? Haverá, numa escola, função mais importante do que dirigi-la?

Para quê tanta conversa sobre hierarquia do mérito, ...
Daqui
... se vamos ter nas escolas “sargentos” a mandar em “generais”?

3. Ao fundo da Avenida da Europa, o tiquetaque do relógio do POLIS não engana: faltam 24 dias para as obras ficarem prontas. O Dr. Ruas vai ter muito trabalho até ao fim do ano…

Comentários

  1. Regresso ao Passado (parte DANTESCA)

    Recordo perfeitamente este texto. Tenho ideia que até escrevi um comentário...

    Sócrates tinha um ambiente de abertura e expectativa de mudança no sistema de avaliação dos docentes; tinha um ambiente de abertura e expectativa na generalidade das questões da educação. Bem ao seu jeito “entrou de pés juntos”! Tratou de levar ”tudo à sua frente” e de se incompatibilizar com os professores. A escolha da “inqualificável” equipa ministerial e de alguns delegados regionais (quem esqueceu a srª Drª do Norte?) E o sr. da CONFAP?

    Lurdes Rodrigues é hoje reabilitada como “senadora” e “grata figura” da educação, mas o clima de competição desgovernada em que assentava o modelo de avaliação arrasava quaisquer valores de partilha de conhecimentos ou de trabalho colaborativo entre pares que pudesse ainda subsistir. A forma descoordenada, confusa e brutal como foi imposto o processo de avaliação só prejudicou a escola pública. Nas escolas houve prejuízos irreversíveis na organização, no ambiente e nos milhares de professores que decidiram aposentar-se, quando ainda tanto tinham para dar ao sistema educativo. A senhora que agora diz que “ninguém é dono da verdade, ninguém é dono da razão total. Devemos ter essa disponibilidade para encontrar consensos”. Vá recuperar a memória em primeiro lugar…

    O titular/não titular foi o fumo para esconder o essencial: dar o KO ao funcionamento democrático das Escolas.
    Em conclusão, parabéns a Sócrates/Lurdes Rodrigues e à corrente “pedagógica” dos “filhos dos sociólogos (e outros cientistas sociais) do isctezessss…). Podem vir recolher os cacos…

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  2. "O titular/não titular foi o fumo para esconder o essencial: dar o KO ao funcionamento democrático das Escolas". Há muito que penso o mesmo. Uma verdade que o tempo só tem confirmado.
    Falam muito do Mário Nogueira não dar aulas há muitos anos, o que é verdade, mas ninguém pergunta há quantos anos 99,9% dos diretores não dão aulas?
    A maior parte teve passagem direta dos diretivos para diretor,ou não é verdade?

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