IRS*

* Publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 31 de Agosto de 2007

1. O casal McCann está a preparar-se para regressar ao seu país, depois de mais de cem dias e cem noites de sofrimento no Algarve. E é, de certeza, à noite que a dor daqueles pais é mais excruciante.

Quando Gerry aparece na televisão de mão dada a Kate, e esta com o peluche de Maddie e toda a tristeza do mundo na cara, lembro-me sempre das páginas de “A Criança no Tempo”, obra-prima de Ian McEwan (Ed. Gradiva). Nesta novela de 1987, a personagem principal, Stephen Lewis, um escritor de livros juvenis, vê a sua vida despedaçada quando a sua filha de três anos desaparece num supermercado. Depois - passado o tempo em que a dor paralisa tudo - ele e a mulher cerram os dentes, respiram fundo, e o livro de McEwan acaba numa epifania.


Daqui
2. Nicolau Santos escreveu, num artigo publicado na última edição do Jornal do Centro, que metade das famílias portuguesas não pagam IRS porque, segundo números de 2005, “dois milhões de agregados familiares recebem em média menos de 4544 [euros] brutos anualmente”. E disse ainda que a fuga ao fisco “é cada vez menor e cada vez menos escandalosa”.

Em consequência, o Director Adjunto do Expresso defendeu mais dois escalões de IRS: um de 45% e outro de 50%. Esta ideia é popular já que as pessoas gostam de ver o chicote fiscal a zurzir em quem ganha muito. Contudo, não é uma boa ideia: o que precisamos é dum governo pequeno e moderado nos impostos.


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Sentado na esplanada do Irish Bar no centro histórico de Viseu, observo os carros que passam: nem um Mercedes, nem um Audi, nem um Bê-Éme. Jaguares? Nada. Descapotáveis? Népias!

É um fluxo contínuo de chassos velhos, com um valor comercial compatível com as declarações de IRS de 2005, a encherem de óxido de azoto os pulmões das pessoas.

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